ISABEL: O Governo que saiu das últimas
legislativas foi demitido pelo Presidente como resultado de tensões e
divergências. Este último ano tem sido ano de impasse e de bloqueio político na
Guiné-Bissau. Este braço de ferro autêntico está a fazer com que o país esteja
numa situação tremenda.
DSP: Obrigado,
Isabel. É bom estar de volta e poder reencontrá-la e saudar a todos os
telespectadores.
Bom,
eu penso que é preciso reconhecer que estamos perante uma crise que foi
induzida, foi provocada completamente dispensável. Numa altura em que todos os
guineenses esperavam a viragem da página a um momento diferente para o país,
outras individualidades e responsáveis políticos tinham outras agendas ou foram
forçadas a isso. Já não sei dizer muito bem.
Nós
chegamos ao poder, o PAIGC ganha as eleições com a maioria absoluta, mas
tivemos consciência de estarmos a chegar ao fim duma transição forçada por um
golpe de estado último de 12 de Abril de 2012. E, portanto, o PAIGC foi capaz
de assumir a responsabilidade de, independentemente dos resultados eleitorais, convocar
a noção guineense para uma governação inclusiva. Portanto, nós chamamos todas
as forças políticas com a representação no parlamento e as forças políticas sem
representação no parlamento, chamamos a diáspora, chamamos a sociedade civil e
durante um ano fomos capazes de assegurar a estabilidade interna, fomos capazes
de fazer uma governação que convenceu os guineenses que estávamos a abrir um
novo capitulo da nossa história, da nossa vida e, portanto, que teve um apreço
interno muito grande.
Concluído
essa primeira fase com o nosso programa de urgência, convocamos uma conferência
de doadores que teve uma extraordinária adesão da comunidade internacional e
que resultou num apoio que não só estava a acontecer pela primeira vez, mas os
valores que foram colocados à mesa, o número e o nível dos participantes e toda
a dinâmica que se gerou, nos convenceu que, de facto, estávamos perante o
início de um novo ciclo para a Guiné-Bissau. Visivelmente, ainda havia
fronteiras e obstáculos que não estavam ultrapassados, mas eu acredito que
serão os últimos. Havemos de encontrar o caminho para a paz e estabilidade na
Guiné-Bissau.
ISABEL: Mas a situação hoje em dia está
controlada ou há algum risco de perder o controlo da situação?
Repara,
devo dizer o seguinte: eu desde que fui eleito, em Cacheu, em Fevereiro de
2014, como presidente do PAIGC, eu disse o seguinte: eu darei tudo aquilo que
depende de mim para que, de facto, as nossas diferenças políticas não resultem em
violência. Portanto, violência não faz parte das soluções que nós consideramos
para o nosso país, porque a Guiné-Bissau já viveu muitas situações difíceis
para o povo guineense. E, portanto, mesmo não concordado com muitas decisões
que foram tomadas recentemente por várias instâncias, nós respeitamos essas
decisões e transferimos para o campo político a resolução das nossas
diferenças.
ISABEL: No campo político, a situação está bloqueada.
Todos os guineenses, toda a comunidade internacional se perguntam que passos dar
agora. Porque, segundo as últimas coisas que aconteceram, há um Governo que
está em exercício há mais de dois meses sem programa aprovado, não há sessões
parlamentares e, ainda agora, a Comissão Permanente, que é o órgão do parlamento
mais importante entre sessões, chumbou o requerimento de mais uma sessão
extraordinária. O Presidente já disse que não vai dissolver o parlamento, como
o senhor defende. Segundo o que disse o Presidente guineense, nem agora, nem
enquanto ele for o Presidente. Para onde é que vai todo esse bloqueio?
DSP: O
bloqueio resulta, pura e simplesmente, da falta da vontade política em resolver
a situação. Para que os instrumentos que a Constituição nos dá, estão lá
inscritas precisamente para servir de mecanismo de desbloqueio de situações
desta natureza. Quando o Presidente da República vem dizer que o quadro
parlamentar está alterado, numa situação em que o parlamento foi constituído com
base numa eleição que deitou a maioria absoluta de um partido político, como é
que o instrumento de desbloqueio que é previsto pela Constituição, que é a
convocação de eleições antecipadas, é rejeitada pelo Presidente da República? Portanto,
há aqui uma prerrogativa discricionária que o Presidente da República entende
que o assiste.
ISABEL: O Senhor considera o Presidente responsável
por esta crise?
DSP: Eu
considero e penso que cada vez mais a maioria dos guineenses também chaga à
essa conclusão, porque são factos. O Presidente começou por invocar diferenças incontornáveis
entre pessoas, o que, de facto, configurava uma difícil coabitação sem nunca
realmente, eu pelo menos, compreender qual era essa incompatibilidade, depois
falou-se de corrupção, falou-se de nepotismo… em função disso foi criada uma
comissão parlamentar de inquérito que foi fazer o seu trabalho, ouvindo as
partes.
ISABEL: Mas, esse relatório não saiu.
Porquê?
DSP: Antes
de se concluir esse trabalho, o Presidente afirmou, por escrito, que não se
lembrava de ter feito essas acusações e, logo a seguir, disse que não
reconhecia a validade do trabalho que estava a ser feito pela Comissão
Parlamentar de Inquérito. Apesar disso, o trabalho foi feito, o relatório
existe e, quem sabe, não será por isso que a Assembleia Nacional Popular não
consegue resolver os seus trabalhos. Mas, eu também gostava de esperar muito esse
capítulo, porque faz parte, mais uma vez, da história recente da qual nós não
nos orgulhamos. Eu penso que um Presidente da República tem que ser, sobretudo,
aquele que junta, aquele que une as partes. Nós já vivemos momentos muito
difíceis e este está a ser um momento particularmente difícil para Guiné-Bissau.
Portanto, há aqui duas soluções possíveis: uma em que o Presidente da
República, quanto primeiro magistrado da nação ajuda, realmente, as forças políticas
a um entendimento que permita salvar a presente situação.
ISABEL: Mas, para isso, o Presidente da
República tem que fazer um recuo, nomeadamente anular o decreto que nomeou este
Governo que existe ainda sem programa aprovado?
DSP:
Talvez o termo recuo signifique já uma consequência de um braço de ferro. Eu
penso que é possível sempre encontrar mecanismos de produção de consenso que
salve a face e a posição de uma e da outra parte. O jogo político, num regime semi-presidencial,
está reservado aos partidos políticos. Portanto, uma presença da forma como tem
acontecido por parte do Presidente da República já não era a forma mais salutar
de ele exercer a sua magistratura.
ISABEL: O PAIGC tem outras soluções que
pode propor neste momento para tentar resolver esta situação?
DSP: Nós,
logo depois da queda do Governo do Camarada Carlos Correia, apresentamos um
pacote de soluções ao Sr. Presidente da República, nós dissemos que é verdade o
PAIGC ganhou eleições com a maioria absoluta, é verdade que nós recebemos o
mandato para governar, mas nós entendemos que perante o quadro político que
produziu, tínhamos que fazer cadências no sentido de encontrar uma solução.
ISABEL: O quadro político que se produziu é
igual à geringonça portuguesa? Isto é, há uma nova maioria criada com
dissidentes do PAIGC.
DSP: Mas,
a geringonça portuguesa não encontra reflexos na nossa. Podemos também
apelidá-la por geringonça, mas bastante mais grave, porque no caso de Portugal não
há um partido que ganha com maioria absoluta, por isso é que o Presidente tem que
recorrer a essa solução. No caso da Guiné-Bissau, há um partido que ganha com
maioria absoluta no parlamento. Portanto, são situações completamente
diferentes. Mas, o pacote que nós apresentamos ao Presidente, vai neste sentido
e, em certa medida, é o que o parlamento, neste momento, está a insistir em que
os próprios partidos políticos possam garantir a exequibilidade dessa proposta,
que é um acordo de incidência parlamentar que permita os partidos políticos,
mesmo divergindo em relação às outras questões, possam, em relação às questões
fundamentais, estar de acordo que é: nós precisamos de revisitar a nossa
Constituição da República, todos estamos de acordo que é preciso – então temos
um acordo sobre isso; nós todos estamos de acordo que se houver uma revisão da
nossa Constituição, precisamos de rever a nossa lei eleitoral - estamos de
acordo; todos nós queixamos do nosso sistema judicial, precisamos não só de um
conjunto de alterações legais, mas a própria reforma do sector. Então, estes
três instrumentos podiam consubstanciar o trabalho da Assembleia nos próximos
tempos. Formava-se um Governo de base alargada, que permitia a gestão do país
daqui até as próximas eleições que seriam convocadas em função daquilo que
resultar da tal alteração constitucional.
ISABEL: Mas, seria já este parlamento a
fazer essa alteração?
DSP: Sim.
Havendo um acordo entre esses partidos, nós chegávamos às próximas eleições já
com um quadro constitucional e da lei eleitoral que iria perspectivar o início
de um novo ciclo bastante apaziguado e bastante mais tranquilo. Ora, quando o
Presidente da República diz nunca, nunca irá dissolver, nós esperávamos que o
nunca fosse correspondido com “eu agora vou incentivar os partidos a chegarem a
um entendimento”. O que nós vemos não vai nesse sentido, vemos um partido que
tenta ser o interlocutor do PAIGC, mas está muito preso a compromissos que terá
assumido com o Presidente da República e não consegue se desligar desses
compromissos e assim fica difícil, realmente, fazer o jogo, o povo é que vai
sofrendo, mas nós, o PAIGC, continuamos comprometidos em trabalhar no sentido
de encontrar uma solução.
ISABEL: O senhor reconhece legitimidade ao
actual Governo guineense?
DSP: Não!
O Governo de iniciativa presidencial não está previsto na nossa Constituição.
Isto é como se, no caso de Portugal, o Presidente da República de repente
decidisse que, eu não vou chamar o partido em concreto para não ferir nenhuma
sensibilidade, mas um terceiro, um quarto, um quinto partido ou alguém da
conveniência do Presidente da República, fosse a sua escolha para formar o
Governo e poder decidir. Não faz qualquer tipo de sentido e mina a nossa
credibilidade interna e internacional. O jogo democrático estabelece um
pressuposto que é todos respeitarem os princípios a partir dos quais se candidataram.
Quando o Presidente da República, assumindo funções do primeiro magistrado da
nação, não reconhece o nosso regime semi-presidencial e reserva-se no direito
de interferir na governação do país, não ajuda o país e nós precisamos de muito
mais do que isso.
ISABEL: Encontrou essa difícil ou quase
impossível coabitação com o Presidente, mas encontrou também muita dissidência
interna dentro do seu próprio partido, que motivou a saída dos 15 Deputados que
o Supremo considerou que devem estar no parlamento até a plenária decidir da
sua expulsão ou não. Essa dissidência interna, essas querelas internas dentro
do PAIGC motivam também alguma fragilidade? Porque muitos guineenses perguntam
se se não haveria hipótese de, dentro do partido que ganhou as eleições com
maioria absoluta, reintegrar ou perdoar esses 15 Deputados, seria sinal de
tolerância democrática.
DSP: É
assim: primeiro, eu queria corrigir, dizendo que eu não encontrei
incompatibilidades com o Presidente da República. O Presidente da República
encontrou incompatibilidades para trabalhar comigo, primeira coisa. Segundo, nós
nunca fechamos a porta ao diálogo aos nossos camaradas. Para lhe dar um
exemplo, nós, estatutariamente, devemos realizar três (3) reuniões de Bureau Político
por ano. No ano de 2015, realizamos oito (8) reuniões de Bureau Político todos
no sentido de promover o diálogo interno, chamar os nossos camaradas a razão e
a uma tentativa de reconciliação interna. A verdade é que eles não têm
condições de corresponder a esse apelo do PAIGC, porque, de facto, se
comprometeram com o Presidente da República em ser a voz da oposição à direcção
do partido e, portanto, esse compromisso aliado a uma acomodação patológica na
Guiné-Bissau tem impedido esse diálogo e esse encontrar de soluções por essa
via, porque as pessoas acreditam que é por essa via que conseguem ser
alternativa ao pode legal instituído.
Nós
vivemos um ciclo de instabilidade que levou muita a gente a se acomodar num pressuposto
de que basta fazer um braço de ferro com a direcção, que a direcção tem que
sucumbir, tem que negociar e tem que, realmente, flexibilizar no sentido de
acomodar a sua intenção. Olha, o que eu digo é que nós continuaremos sempre
abertos ao diálogo, à tentativa de reconciliação, à tentativa de unir a família
do PAIGC para também contribuir na unidade do povo guineense. Contudo, há
princípios que não se negociam, a disciplina tem que ser respeitada, não
havendo disciplina, é aquilo que nós temos tido durante os anos.
E, portanto,
eu aproveito até este momento para dizer que no dia 19 de Setembro vamos
completar 60 anos, vai ser uma efeméride dentro do PAIGC, que as pessoas façam um
exame da sua própria consciência e aproveitem aquilo que o PAIGC vai lançar com
mais uma oportunidade daqueles que prejudicaram o partido poderem-se redimir,
apresentarem as suas desculpas e podermos, realmente, incitar um novo caminho,
que esse caminho da intransigência, esse caminho de contrapor-se à direcção, não
nos vai levar a nada. Esperar que o PAIGC vai sucumbir às intenções pessoais e mesquinhas
de determinadas pessoas, isso não vai acontecer.
ISABEL: O Senhor considerou a nomeação de Baciro
Djá uma facada nas costas. Isso porque Baciro Djá foi o porta-voz do seu próprio
partido?
DSP: Sim,
sim… eu lamentei essa situação, porque, de facto, eu queria-me concentrar na
governação. Os desafios que a Guiné-Bissau enfrenta são tão grande, que toda a
nossa capacidade, toda a nossa energia, toda a nossa competência mobilizada
podia não ser suficiente para os objectivos que nós tínhamos fixado. Se, além
disso, ainda temos que dividir a nossa atenção com estas distracções em que,
permanentemente, nós temos que estar a responder às questões que não existem,
então, fica mais difícil, realmente, atingir os objectivos.
Repara,
quando nós assumimos a governação em Julho de 2014, o conjunto de problemas que
nós tínhamos eram extraordinários: nós tínhamos uma taxa de crescimento que era
uma recessão pura e dura; nós tínhamos uma situação tanto no sector educativo,
como as ameaças do sector da saúde, como fornecimento da energia e água que
estava completamente paralisado, como sete (7) meses do atraso do pagamento de
salário… tínhamos uma situação ca-tas-tró-fi-ca! E, foi quando nós estávamos a
conseguir dar resposta à essas questões, que algumas vozes, muito poucas, começaram
a se elevar para dizer: “mas é assim que este Governo quer resolver os
problemas?”. Ou seja, em vez de celebrarmos, mesmo sendo pequenas conquistas, sendo
conquistas que devíamos celebrar, era mais importante chamar atenção para as
divergências. Começamos a ouvir que a unanimidade mata a democracia; começamos
a ouvir que nós não queríamos oposição, por isso é que convidamos todo o mundo a
participar no Governo, que estávamos a ter políticas concretas e muito
específicas, portanto, muito limitadas e nós não tínhamos uma visão de médio e
longo prazo. Foi uma surpresa muito grande para essa a gente, quando nós
aparecemos a apresentar o nosso plano estratégico de médio e longo prazo, que
teve realmente uma grande adesão. Em vez de acompanharem o povo guineense e
também aderirem a esse programa e darem uma oportunidade ao povo guineense,
assumiram-se como a oposição à esse programa. E, portanto, o que eu digo é: aqui
não há um problema entre o Domingos e José Mário Vaz, o Domingos e o Baciro
Djá, o Domingos e outras pessoas ou entre essas pessoas e outras pessoas dentro
do partido… nós temos outro problema, o país está enterrado no
subdesenvolvimento e na pobreza.
Nós
apresentamos um programa, é normal que muita gente não goste desse programa,
mas nós ganhamos eleições enquanto partido político, estamos legitimados na
nossa intenção de aplicar esse programa e ver até onde é que esse programa nos
leva, chegando ao fim desse exercício, vamos transferir ao povo o direito de
avaliar se nós conseguimos atingir esses objectivos ou não.
Mas,
não podemos ter alguém que assume essa responsabilidade, mesmo contrariando
aquilo que são as avaliações que o próprio povo faz. O povo diz: “nós tínhamos um
Governo que nos pagava o salário nestas condições”. Agora, temos que ver o
Presidente da República a sair em visitas aos Estados a pedir apoios. É que
voltamos ao passado, a um passado que ninguém queria, realmente, voltar.
ISABEL: O programa Terra Ranka não foi para
frente por causa da queda do seu Governo. Como é que vê a possibilidade de esse
mesmo programa ser agora posto em prática pelas mãos de outros?
DSP: O
programa Terra Ranka é um programa do PAIGC, mas o programa do Governo não foi
para frente, porque este Governo, talvez, manchado, à partida, não só pela sua
inconstitucionalidade, mas pela sua falta de à vontade, demonstrou completa
incapacidade de convencer qualquer tipo de interlocutor. Repara, Isabel invocou
aqui os 15 Deputado do PAIGC que decidiram votar contra o programa do seu
Governo. Eu penso que todos se lembram que, na altura, um dos motivos fortes que
eles invocaram era que não se reviam no programa que eu tinha apresentado. Lembro-me
até duma Deputada que dizia que tinha feito campanha na sua região, prometendo
um conjunto de coisas que não estava reflectido no programa do Governo. E,
portanto, todos pensamos que, com a queda do meu Governo e do camarada Carlos
Correia, com a formação desse novo Governo, mesmo sendo ilegal, eles tinham uma
oportunidade de apresentar algo diferente. O que é que apresentaram? Disseram
que exactamente esse programa é que era melhor para o país.
Mas,
sabe, não basta dizer que eu assumo este programa, é preciso identificar-se com
esse programa. Portanto, eu acredito que a solução do problema do país continua
a estar nas mãos dos principais actores políticos do país. Primeiro, se os
partidos políticos compreendem a sua missão e decidam, de facto, dar uma
oportunidade a este país, rapidamente nós podemos chegar a um entendimento e,
criando o consenso possível, demonstrar ao Presidente da República que tem que
respeitar o consenso estabelecido por esses partidos.
Mas,
não havendo esse consenso e havendo o Presidente da República a insistir que há
um novo quadro, só tem uma solução: tem que convocar as eleições antecipadas.
Eu insisto em dizer, isto não é uma prerrogativa cega que foi consignada ao
Presidente da República, é um mecanismo de desbloquear a situação do país. E,
aqueles que dizem que há aqui um problema de verbas, eu penso que alguém chegou
a dizer: “um país que não consegue resolver o problema dos seus hospitais e das
escolas, agora vai enterrar 10 milhões de dólares para realizar novas eleições?”.
Eu pergunto: 10 milhões de dólares comparados com 1.500 milhões de dólares que
nós estamos a enterrar, qual é o balanço possível? Mas, não é só isso, eu penso
que neste momento todos os nossos parceiros, mesmo ao nível interno, compreendemos
que, por um lado, a Guiné-Bissau tem capacidade para assegurar a realização das
suas eleições, como a própria comunidade internacional já está disponível,
porque percebe que as perdas são maiores do que qualquer tipo de dano.
ISABEL: Tendo em conta todas estas divisões
saídas, inicialmente, de congressos de Cacheu, mas que se têm vindo a mostrar
mais nesses últimos dois anos. A questão é: como é que o PAIGC se apresentará a
essas eleições: como um partido fragilizado ou ainda como o maior partido da
Guiné-Bissau?
DSP: Isabel,
provavelmente, eu vou a surpreender e talvez esteja a surpreender muitos dos que
estão a acompanhar-nos, mas eu vou-lhe dizer uma coisa: eu acho que o PAIGC
nunca esteve tão unido. A verdade é que há uma instituição da República que é o
Presidente da República que decide é dar voz aos contestatários dentro do
partido e estes contestatários, beneficiando desta atenção que o Presidente da
República insiste em oferecer-lhes, se apresentam, quase, como se estivessem em
pé de igualdade com a direcção do partido e com actual situação do partido. Eu posso-lhe
dar números para realmente acertar aquilo que eu estou a dizer: Primeiro, como
eu já disse, num mandato nosso a frente do PAIGC que começou em Julho de 2014,
neste período, nós já fizemos tantas reuniões de Comitê Central e do Bureau
Político e quantas reuniões já se fizeram nos últimos 10 anos dentro do PAIGC.
Portanto, não há nenhum problema de convocação dos órgãos do partido. Outro
número importante, desde o Congresso de Cacheu até este momento enquanto falo a
Isabel, nós não aprovamos nenhuma resolução dentro do Bureau Político ou do Comité
Central que não tivesse uma taxa de aprovação superior à 95%. A última reunião
do Comité Central que nós fizemos, teve a presença de 289 membros, desses 289,
10 votaram entre abstenção e rejeição à proposta da direcção, 278 votaram a
favor da proposta que foi apresentada.
E,
portanto, essa minoria depois se levanta para dizer é a unanimidade que vocês procuram,
não estão a ouvir as vozes adicionastes. É que aqui, há aqui um problema de
disciplina e de reconhecer os métodos democráticos como forma de validação por
parte da maioria sem, obviamente, ignorar. Permita-me só concluir, dizendo o
seguinte: apesar de tudo isto que eu estou a dizer, eu tenho sido um dos
primeiros a ultrapassar essa barreira da intransigência para falar com o outro
lado, eu ligo as pessoas, eu já tive encontro com todos, não vou agora estar
aqui a mencionar. Quando nós tentamos formar o Governo do camarada Carlos
Correia, eu, pessoalmente, fui telefonando a cada uma dessas pessoas,
convidando-os a se sentar connosco, convidando-os a mostrar que realmente juntos
podemos constituir um consenso a volta do nosso programa, mas como eu digo,
eles estão presos a compromissos que assumiram com entidades que querem
produzir uma alternativa ao PAIGC e sentem essa frustração quando, no olhar
deles, nós não facilitamos esse jogo.
ISABEL: Nós estamos mesmo no final desta
nossa entrevista e eu não posso deixar de perguntar. O senhor foi Secretário
Executivo da CPLP, tinha uma carreira internacional promissora prestigiante
pela frente. Está, de alguma forma, arrependido por ter voltado a apostar na
política guineense e ter voltado à Guiné?
DSP: Não!
Não posso-me arrepender do tempo e de uma dedicação que eu faço para o meu país
e para o meu povo. Isso é uma pergunta muito recorrente que eu ouvi, sobretudo
quando eu regressei ao país e me apresentei como candidato à liderança do PAIGC.
ISABEL: Mas, tendo em conta o que aconteceu
nesses últimos anos?
DSP: Não…não…
o que aconteceu nestes últimos anos só demonstra a profundidade do problema
guineense e, portanto, se o problema é tão profundo, então, convoca a todos os
guineenses a podermos contribuir para a resolução do problema. A única coisa
que eu digo a todos quantos me dizem isso é que mesmo quanto eu estava em
Portugal, muita a gente até podia não sabe que eu era guineense, mas eu sabia
que era guineense. Portanto, aquilo que acontecesse ao mau país e aquilo que
acontecer ao meu país, acontece-me a mim. E, portanto, eu estou feliz por saber
que eu estou a dar o meu melhor a favor do meu partido e do meu país. Se o meu
melhor não for suficiente, vamos juntos sucumbir, mas eu acredito que, no meio
de tudo isto que parece ser um pântano que ninguém se entende, comece realmente
a surgir uma geração de guineenses que acreditam que o futuro está com a
verdade e o combate dessas intrigas, destes golpes baixos que têm sucumbido a Guiné-Bissau.
Desculpe,
não posso perder esta ocasião para dizer que eu regresso proximamente
à Guiné. Setembro, normalmente, é o nosso mês de celebrações, mas este ano é especial. 19 de Setembro de 2016, o PAIGC completa 60 anos da sua existência, vamos querer, realmente, transformar este momento num marco em que o PAIGC convoca a todos os seus militantes, a todos guineenses para, realmente, a partir do PAIGC, convocarmos a noção guineense para uma nova página da nossa história.
à Guiné. Setembro, normalmente, é o nosso mês de celebrações, mas este ano é especial. 19 de Setembro de 2016, o PAIGC completa 60 anos da sua existência, vamos querer, realmente, transformar este momento num marco em que o PAIGC convoca a todos os seus militantes, a todos guineenses para, realmente, a partir do PAIGC, convocarmos a noção guineense para uma nova página da nossa história.
ISABEL:
Muito obrigada, Sr. Eng.º por ter vindo
a esta grande entrevista à África e, à si que nos acompanhou, muito obrigada
também. Até uma próxima oportunidade.
DSP: Um grande
prazer.
De: Lope
ku Fundinhu
Nenhum comentário:
Postar um comentário