Eis a grande questão que se coloca às autoridades guineenses depois da vinda a Bissau de dois Presidentes de dois Estados membros da CEDEAO. A dúvida pairou no ar pela forma como organizaram e divulgaram a vinda da delegação sub-regional no cumprimento da resolução da cimeira dos chefes de Estado e de Governo da CEDEAO que decorreu em Dakar, Senegal, no mês de Julho.
Em Bissau, fez-se um grande aproveitamento político com a estadia de Alpha Condé, da Guiné-Conacri e Ernest Bai Koroma da Serra-Leoa, respectivamente, como se tratasse de uma visita de Estado para discutir laços de amizade e de cooperação entre os respectivos países, ou uma vista de Chefes de Estado, na qual integraram as comitivas presidenciais vários empresários que pretendiam estudar o mercado guineense para posterior investimento.
Na verdade era uma missão de mediação para propor caminhos para a saída da crise que os próprios guineenses não têm sido capazes de resolver há mais de um ano. Ainda assim estão contentes com a presença de mediadores internacionais com propostas pouco realistas.
Os dois Presidentes foram recebidos em ambiente de festa e de euforia como se fossem salvadores de pátria. Dizia um entrevistado que foi ao aeroporto para fazer-se ouvir, "que a vinda da delegação era uma grande vergonha para o país e classifica-a como um certificado de incompetência emitido às autoridades nacionais".
Rios de dinheiro foram colocados à disposição da Comissão que preparou a receção dos dois estadistas. 300 motorizadas vieram da região de Gabú para fazer propaganda e aproveitamento político.
Do aeroporto internacional Osvaldo Vieira ao Hotel e posteriormente ao Palácio da República, os três Presidentes apareceram numa carrinha de caixa aberta privada. Sim, a “dupla cabine” tinha a chapa de matrícula privada e pertence ao Presidente da República da Guiné-Bissau. Esqueceram-se de tapar a chapa de matrícula privada.
A Comissão Preparatória emitiu publicidade nas rádios pedindo a população para sair à rua como gesto de solidariedade e contentamento para com a vinda da delegação. Ofereceram camisolas de apoio à figura do Chefe de Estado guineense. “ Jomav povo sta ku bo” lê-se nos milhares de T-shirts distribuídos durante o dia.
À saída do Hotel e em direção ao Palácio da República, os três Presidentes ficaram demasiados expostos na parte traseira da viatura, durante mais de 20 minutos bloqueados, porque ainda se discutia se as motas de Gabú deviam ou não entrar na caravana presidencial ao lado dos batedores. É que as forças policiais recusaram inicialmente essa ideia dos dirigentes, mas acabaram por cumprir “ordens superiores”, deixando seguir os rapazes de propaganda na comitiva. Aliás até os “Toca-tocas” ao som de tambores acompanharam a delegação.
No Hotel, durante mais de 20 minutos foram alvos fáceis e encontravam-se numa situação muito vulnerável para quem quisesse atacar.
Notou-se que o Presidente da Serra-Leoa não terá gostado da situação e de apanhar tanto sol e com humidade relativamente elevada que se fez sentir neste sábado em Bissau.
Depois, para irritar ainda mais a sensibilidade dos observadores atentos foi a reunião de mediação que deixou quase todo mundo satisfeito: durante os encontros ninguém fez mais de 6 minutos com a delegação e todos satisfeitos com a vinda da delegação e com os 6 pontos propostos.
Daí foram todos para o Palácio da República e assinaram o documento não revelado. Tudo foi muito rápido. Talvez porque a missão ministerial da CEDEAO havia conseguido reunir consensos dos políticos à volta do princípio do acordo.
Convém salientar que os jornalistas não assistiram à assinatura do acordo porque ninguém os mandou entrar na sala: todos ficaram na sala de espera e de repente disseram que o documento já tinha sido assinado por todas as partes. Apenas entregaram o comunicado final aos jornalistas que acompanharam a missão.
Cancelaram a conferência de imprensa dos três Presidentes que estava prevista no comunicado e ninguém mais prestou declarações à imprensa.
A Assessoria de Imprensa da Presidência da República e os Serviços Protocolares trocaram acusações mutuamente sobre quem seria o responsável pela grave falha na comunicação.
O acordo assinado não foi divulgado até ao momento pelas autoridades nacionais.
As questões que Saliu Djaura, um cidadão nacional entrevistado no aeroporto colocou, foram as seguintes: porque é que se deve vangloriar com a vinda da delegação de mediação para a crise que os próprios criaram?
Adiantando que é uma vergonha nacional a que o povo foi sujeito.
Será que doravante as feridas estão curadas?
Todos os problemas estão resolvidos?
É óbvio que os observadores atentos a crise afirmam prontamente que não, disse em tom de revolta. Fim de citação.
Faltam para aí cerca de 18 meses para o fim da presente legislatura, o que foi feito até aqui?
Vamos continuar a discutir que tipo de governo queremos ou teremos até lá?
Quem deve ser ministro?
Ou vamos discutir a essência do problema?
Sejamos realistas isto não acaba com a vinda da delegação da CEDEAO, com a formação de um novo Governo ou com a realização de eleições legislativas. Nota-se que os próprios políticos já não têm soluções viáveis para acabar com a crise.
Não se estranhem com as novas alianças e divórcios políticos que vão conhecendo nos próximos dias. Os políticos guineenses mudam de equipa rapidamente como se tratasse de roupa.
Não é questão de pessimismo, mas estamos fritos!
Braima Darame
12.09.2016